Hey, vem cá!
Hey, vem cá! Senta aqui, vamos conversar? Aceita uma água, um café ou um chá?
Quando pensei em escrever essa conversa, pensei em diversas formas de como começar e eu, nesse exato momento, não sei como escrever, só estou escrevendo conforme meus sentimentos vêm a tona.
Ontem(04/05/21) foram tantas notícias no mundo que ainda me sinto desnorteada, parece tudo uma grande confusão na minha cabeça.
Escrevo esse texto de forma sincera e com o coração um pouco na mão, para falar sobre mim e sobre o que aconteceu.
Quase quatro semanas atrás, no sábado, eu até comentei no twitter, sobre ter acordado sem escutar em um dos lados da orelha. Foi uma das piores sensações que se possa imaginar e eu quase entrei em pânico sem saber o que raios tinha de errado comigo. Marquei o médico para a quarta da semana seguinte e fui, e ele disse que não tinha nada de errado comigo, que havia sido um pico de estresse.
Cheguei até a falar nos meus stories nesse mesmo dia sobre a importância da saúde mental, como é importante se cuidar.
Exatamente 4 dias depois foi quando aquele inferno começou e eu achei que estivesse presa em um pesadelo. Quando paro e penso, eu lembro da culpa que senti por sair de casa, do desespero de contaminar outras pessoas e lembro de chorar e muito com medo, porque só o que eu senti foi medo.
Durante a madrugada do domingo da semana seguinte a que eu tinha ido ao médico, comecei a sentir calafrios e dores de garganta. Sendo que sou muito alérgica, então logo achei que havia sido alguma das minhas crises de alergia. Porém, eu fui ficando pior com o passar das horas.
Na hora que senti o calafrio, eu já me isolei no quarto e comecei a usar máscara dentro de casa, pois todo cuidado era pouco. Eu tive muito medo por minha mãe, e ainda tenho.
Eu lembro que o segundo dia foi muito, mas muito pior e eu chorei de medo e dos sintomas que eu tinha. Minha garganta doía tanto que nem água eu conseguia beber direito. Toda vez que eu bebia água, eu chorava porque doía demais e eu sabia que se eu não me alimentasse e nem bebesse água, eu iria parar com alguma desidratação no hospital. Naquele dia, foi o pior de todos, lembro de ter ido deitar pra dormir e meu nariz entupiu de uma forma que deitada eu não conseguia respirar direito e quando eu abria a boca pra respirar, a sensação que eu tinha era que uma faca tava sendo enfiada na minha garganta. Eu "dormi" sentada pois quando eu deitava, não conseguia respirar bem e foi um verdadeiro inferno.
Minha família ficou uma pilha de nervos, principalmente porque eu tenho um histórico longo de alergias e também, quando era pequena, já fui em balão de oxigênio na ambulância de uma cidade para outra, por conta de alergia. Então eu estava preocupada comigo, mas também estava preocupada com minha família, que tenho certeza que não dormiu nesses últimos dias assim como eu.
Eu fui ao médico (o mesmo onde provavelmente me infectei) para que ele me examinasse e ele logo cravou que era a CEPA do COVID19. A forma como ele contou não foi das melhores (detalhes que eu não quero entrar para evitar processo) e eu tive uma crise de ansiedade horrível na frente do prédio onde tinha o consultório dele. Detalhe que eu precisei ir sozinha até lá e voltar sozinha, para não correr o risco de prejudicar ninguém.
Nesse dia, minha crise de ansiedade foi tão horrível que eu saí andando doente até um hospital que havia a alguns quarteirões, pois eu estava querendo uma outra opinião. Comecei a medicação(que quase foi um inútil kit covid, mas por conta das minhas alergias não posso tomar quase nenhum dos medicamentos, para minha sorte) e aí que voltei para casa péssima, não só fisicamente, mas mentalmente. Ter que olhar meu oxigênio a cada uma hora rezando para que se mantivesse acima de 95%, olhar temperatura o tempo inteiro, ficar monitorando TUDO... Foi uma situação extremamente desafiadora e estressante que eu dou graças a Deus por ter terminado.
Nesse mesmo dia, acho que já era o terceiro, eu chorei, senti dor, os corticoides que tomei até aliviaram, mas lembro de ver o terror nos olhos da minha mãe quando contei o que o médico havia dito e de, durante a madrugada, ter muito, mas muito medo de morrer, pois eu tenho tantos sonhos que quero realizar...
Foi como viver um pesadelo diário, em que cada hora passada era um alívio e eu contava os dias para que tudo passasse.
Eu me senti muito sozinha estando 24h dentro do meu quarto, hoje já faz quase vinte dias, e foi muito importante conversar digitalmente com as pessoas que amo e rezar bastante, tudo que eu tenho hoje é a agradecer a Deus por me abençoar em eu ter me recuperado bem e por ter me dado força nesses dias difíceis, assim como deu forças a minha família, pois sei que não foi nem um pouco fácil para eles.
Eu senti muita culpa no começo, eu lembro de chorar, assim como choro enquanto escrevo isso, de ter ido para o médico naquele maldito dia, pois eu estava me cuidando, eu não saía de casa sem ser por necessidade, eu não aglomerava e, minha nossa, faz mais de um ano que não vejo meus amigos.
A raiva de ter saído de casa, quando eu poderia ter perdido a consulta... Eu senti muita culpa e, minha nossa, como eu me odiei naquele começo. Eu tive ódio mesmo por ter me colocado naquela situação infernal assim como preocupado minha família inteira e roubado o sono deles também (pois confesso que há semanas que não consigo dormir direito por conta da ansiedade, a madrugada é o pior pois o medo ainda ficou).
Esse post foi feito de forma sincera para conversar sobre o que tá acontecendo no nosso país. A forma como essa pandemia foi e está sendo administrada é um crime contra a humanidade. São cerca de 400.000 mortos e eu sinto uma vontade de chorar desesperadora por pensar na minha sorte de não ter me tornado uma estatística.
Porque eu quero tanto viver, eu tenho tantos sonhos para realizar, acabei minha faculdade agora, a prova da Ordem foi remarcada e eu quero mesmo fazê-la, assim como quero lançar meus livros, amar, viver intensamente. Eu quero viver, eu quero muito, muito viver e quero ver todas as pessoas que eu amo viverem também.
Por isso mais uma vez eu agradeço a Deus por ter conseguido superar isso, assim como agradeço a minha família pelo suporte e a todos que me enviaram orações nesse momento tão difícil. Obrigada, eu senti em meu coração e foi um gigantesco conforto para minha alma.
Se você puder, fique em casa. Use máscara quando sair, mantenha o distanciamento social, higienize as mãos. Não existe tratamento precoce para covid, o único tratamento para um vírus é a VACINA. Precisamos cobrar para que haja mais vacinas para imunizar a população. Viva a Vacina! Viva o SUS!
Eu demorei a vir falar pois eu não sabia como falar de forma calma. Eu até cheguei a tentar escrever, mas tudo que consegui foi uma poesia desesperadora que eu não tenho coragem de reler, e também não sei se tenho coragem de postá-la.
Peço perdão por ter preocupado tanta gente e também por não ter contado antes, assim como peço desculpas por ter ido ao médico naquele dia de merda, talvez se eu não tivesse saído de casa, eu não teria adoecido. E agradeço também por todo o carinho, apoio e mensagens que me mandaram.
Se cuide, cuide das pessoas a sua volta. Eu usar máscara fez toda a diferença para proteger as outras pessoas. Higienize as mãos, cobre pela vacina e, se você estiver na faixa etária de tomar, se vacine!
Viva a Vacina! Viva o SUS!
Um xêro,
Thyaly



0 Comments