Crise dos vinte (ainda)

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Eu não sei quanto tempo dura a crise dos vinte. Também não sei se, por conta da pandemia, ela está se prorrogando mais do que o esperado.

Detesto essa sensação que nada está onde deveria estar, como se tudo tivesse tomado um outro rumo além do planejado. 

Passar quase três anos dentro de casa por conta da pandemia mexeu bastante comigo. Tenho revisto pessoas que antes participavam ativamente da minha vida, mas tudo mudou. Na verdade, algumas dessas pessoas não mudaram nada, mas eu mudei. Eu não sou mais a mesma. 

E, por mais irônico que pareça, estou passando o mesmo dilema que já passei antes, mas em um local que jamais imaginei que passaria, porque, bem, esse local era o meu refúgio.

Não tem como, acho que a crise dos vinte atinge qualquer lugar que a gente esteja justamente porque envolve quem tá passando.

As pessoas estão saindo da minha vida e seguindo seus próprios caminhos. Minha eu de anos atrás estaria aos prantos, fazendo de tudo para permanecer.

Minha eu de hoje só olha e diz "vai na luz".

Meu ciclo de amigos está cada vez se afunilando, mas, ao invés do que aconteceu no término do meu ensino médio, eu não sinto aquela urgência ou desespero de antes. Não resta mágoas, sentimentos ruins ou qualquer coisa do tipo, apenas uma sensação de neutralidade que diz "acontece, faz parte da vida".

É como se a vida tivesse mostrado que são diferentes os tipos de amigos para as diversas situações e que apenas poucos conseguirão abranger todos os campos.

Por exemplo, como aquele vídeo da jout jout: tem o amigo da festa, o amigo do chá da tarde, o amigo da viagem...

Eu mesma sou a amiga do chá da tarde, porque já nasci velha, mas vou para uma festa aqui e ali (poucas nos anos, talvez no máximo duas).

Só... tudo parece meio deslocado ultimamente. Não sei se são as coisas ao meu redor ou se sou eu que mudei demais e não me encaixo onde me encaixava antes.

Não sou mais a mesma e estou confrontando isso todas as vezes que encontro as pessoas do meu passado, pois a imagem que elas tem minha, não existe mais. Não sei se estou enfrentando essa crise existencial tarde demais, mas, honestamente? Eu não me importo. Algo que aprendi é que temos tempos diferentes.

E aí que eu me questiono: como eu pude um dia me encaixar aqui? Como um dia eu pude achar que esse era o meu lugar? Como pude achar se tudo isso vai contra quem eu sou?

Mudar é mesmo um dilema.

E aí, você vai ver e a pessoa mudou, você também mudou, tudo mudou...
Mudanças são sempre necessárias, mas ninguém disse que elas são fáceis.

Há momentos em que não se tem uma única pessoa para conversar, porque a vida adulta... ela atropela a gente sem parada para prestar socorro. Se você não se fizer presente na vida das pessoas, bem, o tempo é cruel e vai se encarregar de ocupar o espaço que antes você ocupava.

Minha melhor amiga me disse isso e ela tem razão.

E isso dói. Constatar isso dói.

Sendo que, não tem como você fazer algo sozinho, não tem como você manter algo sozinho, isso é algo que a vida adulta também te ensina. Você precisa que o outro também queira.

E aí que vem a pior e mais dolorosa parte: o outro muitas vezes não quer.

Então só te resta deixar ir, seguir seu próprio caminho e talvez se esbarrar por aí, com a mente mais madura e o coração mais leve.

Porque a vida, meus leitores, a vida acontece.


Um xêro,
Thya

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