Tudo o que eu não disse nesses três anos
Eu sou jovem, mas também sou velha.
Jovem demais por não ter vivido tudo que ainda se há para viver. Velha demais para viver coisas pela primeira vez.
Tenho cicatrizes que estão se curando, amores que me queimaram e me fizeram renascer, dores que eu espero um dia esquecer.
Tenho traumas que marcaram minha alma, feito pelas mãos amigas que juraram me proteger, colocando-me em potes ao invés de me incentivar a voar tão alto quanto aquilo que sempre sonhei ser.
Enjaulou-me de forma sutil, com grilhões que prenderam minhas pernas, mostrando o brilho das estrelas, sem jamais me deixar tocá-las, numa gaiola podre e mal cuidada, deixando-me faminta e me entregando migalhas, me fazendo acreditar que a culpa era minha por estar naquele lugar.
Um objeto para estar ali pelo seu bel prazer, brilhando exclusivamente para alguém que pensei conhecer.
Eu não deveria ter confiado na mão amiga que me deu o braço, para então me apunhalar lentamente, me fazendo crer que as asas que eu possuía, ninguém mais deveria ver.
As mesmas mãos amigas que juraram um amor apaixonado, mas que apontaram todos os meus traços como se imperfeita eu não pudesse ser.
Três invernos se passaram, (ou foram quatro?), me fazendo acreditar que o verão jamais iria chegar, e tudo o que eu pude fazer foi acreditar que aquela jaula era o meu lugar.
Nas migalhas envenenadas, entregues por uma cobra, entrou em minha cabeça de forma ardilosa, me levando a aceitar que coisa melhor eu jamais iria achar.
Achei merecer apenas as poucas e vazias palavras, porque me fizeram acreditar que eu deveria emagrecer, mesmo estando faminta de amor, sem pensar que aquela dieta iria me adoecer.
Foram palavras ácidas disfarçadas em sorrisos, gestos sutis acompanhados por uma voz mansa. Nesse balé confuso de gestos ensaiados, fui presa no meio da dança de um discurso vitimizado.
Bêbada daquilo que não era realidade, não percebi as cicatrizes deixadas em meu corpo que marcaram minha alma. Não foi um tom mais alto ou sequer gritado, foi aquela voz mansa de alguém que se colocava como pobre coitado.
Mas a Lua sempre brilhou e me guiou para que eu a alcançasse, mostrando todo o seu esplendor através das grades da mentira. A luz me fortaleceu e eu quebrei os grilhões que me prendiam naquela gaiola montada por um ego frágil, um manipulador consagrado.
Como uma fênix renascida das cinzas, o fogo queimou meu peito e eu relembrei que era muito mais forte do que tentaram me desacreditar, porque eu sou a guerreira que jamais deixou de lutar, que deu a cara a tapa no meio da batalha, domando leões no meio de uma guerra de palavras.
Então alcei voo em direção a Lua, para alcançar as estrelas com os dedos, e só assim eu pude ver, que aquelas mãos, amigas não podiam ser.
Com todo aquele estrago ao meu redor, não foi difícil entender, que aquele caos tentou me enfraquecer.
Tudo se esclareceu e eu percebi que mamãe tem razão. "Pobre de espírito" ela disse. "Sem amor e coração, buscando se preencher com aquilo que não existe".
As mãos se esqueceram que eu sou a fênix que renasce das cinzas, e assim eu pude me reerguer e ver que a culpa nunca foi minha, mas apenas daquele que manipulou a realidade enquanto eu gritava a verdade que finalmente encontrou a luz do dia.
Thyaly Diniz


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